RE: Defendi Hitler? Respondendo ao e-mail de um judeu
Salve Alysson. Legal a iniciativa do teu colega em entrar em contato contigo para discutir o assunto, dessa forma sem ofensas e desnecessidades. Isso é um tanto raro até.
Quanto aos questionamentos e pontos apresentados, sobre Hitler não há muito o que dizer não é mesmo, você definiu bem ali, e realmente parece que a subjetividade dele deu esse tom para algo que você nem lembra de ter escrito.
Quanto a religião, aí realmente é um negócio complicado de afirmar qualquer coisa, assim como já fui vegetariano por muitos anos, já fui ateu também, haha. Hoje não sou nada. E com "nada" quero dizer que não tenho uma crença específica apesar de já ter experimentado experiências de intensa religiosidade/espiritualidade/fenômenos paranormais e assim por diante. Acredito que o meu ápice de lucidez apenas me confirmou que nada sei. Não sei se existe qualquer coisa ou não. Mas indiferente de opinião pessoal sobre isso, o que tenho aprendido lendo um pouco de Campbell, Jung e outros pesquisadores da área é que ao meu ver, a religião, a crença no oculto, é inerente ao homem, é simplesmente impossível prever um ateísmo brotando numa tribo isolada ou em qualquer tribo que já passou por aqui. Seja em que nível for, o homem terá uma desconfiança do além, alguma coisa.
O que penso a respeito da problematização das religiões e seus resultados sociais em termos de violência e guerra tem a ver com o andamento cultural da mesma, a evolução de um mito dentro de uma sociedade com poderes, onde a informação muda de forma e de força. Algumas fatalidades como o fato de religiões violentas dominarem massas muito maiores fazem com que eu sinta uma certa urgência em uma espécie de extermínio humano para casos insolúveis de alienação religiosa, haha se você se baseia no humanismo deve achar absurdo isso, mas hoje em dia eu não acho mais. Porém, claro, estamos falando de uma realidade distópica absurda. Tudo que se pode e se devia fazer é buscar um meio de educar as culturas jovens a compreender regras básicas de tolerância e respeito. Não precisa aceitar, pré-conceito é ótimo, só não viole os limites, não viole a vida, no mais rezem como quiserem.
Sim... Realmente foi uma atitude fora da curva. Eu nunca tinha recebido um e-mail assim, hahaha, confesso que foi bastante interessante — me senti aqueles intelectuais que escrevem livros, são lidos e vários leitores começam a mandar e-mail falando sobre a obra :P
Você falou algo bem importante sobre ateísmo: não parece ser a condição natural do homem. Antes, a evolução de qualquer sociedade parece tornar indispensável a ideia de que a religião é um passo necessário para a construção de uma civilização. E isso não é um demérito para o ateísmo; me parece, inclusive, um ponto que favorece a perspectiva ateia: afinal, se o ateísmo é como Feuerbach entendia, um passo posterior à religião, então quanto mais evoluída é uma sociedade, mais ateia ela tende a ser, por encontrar razões outras para sua própria existência que independem da crença em divindades e mistérios de tipo místico. E isso parece ser confirmado pelo próprio cientificismo de que o judeu do e-mail fala, pois é próprio de uma sociedade repleta de liberdade científica que uma comunidade de ateus brote e se estabeleça firmemente.
Agora, só não dá pra descartar a tese do Yuval Noah Harari de que, mesmo sem religião, ainda assim somos seres que precisam, necessariamente, cultuar símbolos, e que a religião apenas fortaleceu esse nosso lado simbólico durante milênios — não à toa hoje se fala inclusive do dinheiro como sendo uma espécie de Deus, o que pode se encaixar também no próprio apreço ao método científico como sendo o guia para as respostas de que precisamos.
Enfim, grato pelo comentário. Divergindo ou não, o importante é esclarecermos sempre nossas razões, pois se o conflito surge por qualquer motivo, especialmente religioso, é por um comum desentendimento das partes. Abraço!