Polis Umbrae

in #scribe7 years ago

Os exercícios de presença dessa gente motivada em deliciar cada segundo da vida são dignos, mas inúteis. Não que seja falha a motivação dessa gente, ou turva, ou boba. É digna como é toda tentativa de viver melhor, e é inútil, pois nem todos os segundos são deliciosos. Deus não possuía dotes gastronômicos ao fazer o mundo, sabia mais de cálculos e de ciências naturais. Os procedimentos mágicos de fazer delícias, assim como as artes e o vinho, são desvios estranhos ao criador, são fungos na criação. Essa fragilidade na presença se agrava mais nas metrópoles, lugares onde a fraca culinária divina foi tirada, pra que tudo conservasse o sabor áspero de cimento, cansaço e desesperança – tempero capital dos homens. Que mentira foi essa a da superação da religiosidade pela promessa científica? Nós fingimos descrer na vida após a morte, e trouxemos por antítese a morte pra vida, de modo que as cidades são purgatórios em latência, polis umbrae. Tudo cá é passagem, projeto, programa, progresso. Não há estadia, não há vinhedos. As rodovias e rodoviárias são nossos ídolos, nosso mito e pão. Há um ponto preciso, mantido perto dos 180 graus, onde a carne fica bem assada, e rapidamente é preciso tirá-la do forno. Onde fica esse ponto é a questão mais antiga do mundo, a primeira dúvida filosófica que especulou exaustivamente no universo. Foi a dúvida de Deus ao sentir um cheiro de queimado assim que estava pronto o mundo.
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