Blockchain, muito além da tecnologia - Introdução do livro
Este material tem como um dos objetivos abordar conceitos e características de uma tecnologia que tem intrigado desenvolvedores, engenheiros e arquitetos de software, especialistas em segurança e profissionais de tecnologia em geral, agentes do mercado financeiro global, economistas, investidores, especuladores, gestores públicos e privados, agências reguladoras governamentais e certamente muitos outros setores da sociedade.
É fato que todo esse interesse pelo Blockchain surgiu a partir da grande fama de seu primeiro e mais famoso subproduto, o Bitcoin e as mais de mil criptomoedas que surgiram depois, porém, Blockchain remete a algo imensamente mais abrangente e importante do que criptoativos em geral.
Afirmar que Blockchain não se resume a criptomoedas (embora estejam intrinsecamente ligados), no entanto, é simplesmente afirmar o óbvio.
A internet está recheada de ótimos sites, artigos e livros (digitais e impressos) que explicam com riqueza de detalhes sobre o tema, mostrando o potencial tecnológico e os motivos do Blockchain estar em evidência, por isso, o principal objetivo em escrever este e-book é tentar mostrar tudo o que levou ao surgimento do Blockchain, um novo ponto de vista que não trata apenas dos conceitos tecnológicos envolvidos, mas também e principalmente dos contextos sociais que originaram tal tecnologia.
Para os interessados somente em tecnologia, talvez a ideia de mergulhar em análises históricas e conceituais da sociedade possa parecer pouco interessante, mas tecnologia interessante de fato é aquela que ganha espaço e continua sendo utilizada, mostrando, portanto, seu real valor, sua real utilidade.
Para entender o real potencial do Blockchain, bem como se tal tecnologia pode de fato se consolidar, cabe fazer um escrutínio em relação a tudo que está envolvido nas ideias de descentralização, confiança e segurança, bem como quais eventos passados influenciaram e criaram o ambiente favorável para o surgimento do Blockchain e tudo o que esta tecnologia representa.
Abandonar a análise das causas primeiras colocando toda a atenção nos efeitos atuais e resultados aparentes, cria margem para equívocos conceituais.
Questionar se Blockchain é uma tecnologia, arquitetura ou estrutura viável e útil levando em consideração somente o cenário atual ou apenas o mercado de criptomoedas, sem entender de onde vieram as ideias que formam a base conceitual de tal tecnologia, se assemelha a debater se os carros elétricos atuais têm ou não um design mais arrojado do que os protótipos do passado, ou seja, se debatem questões periféricas (nesse caso específico o design seria secundário) relacionadas a um produto tecnológico inovador (carros elétricos) e se abandonam as causas ou necessidades reais das inovações em si (carros movidos a energia elétrica), se o desafio é definir uma nova estrutura de veículos motorizados que possa revolucionar o mercado para melhor, não há motivos urgentes em se debater o design dos mesmos.
Geralmente as críticas ao Blockchain tem caído em um erro conceitual semelhante ao desse exemplo.
Considerando ainda a analogia dos carros elétricos, refletir sobre o uso de combustíveis fósseis como o petróleo que concorre com formas cada vez mais sustentáveis de geração de energia com potencial de reduzir custos na fabricação de veículos e consequentemente na comercialização dos mesmos, já levanta uma série de questões conceituais sob a qual caberia uma análise aprofundada de quem seria beneficiado e quem seria supostamente prejudicado com uma mudança tão radical em tal mercado. Questões como, quais são as partes interessadas? Seria a população em geral em busca de veículos mais acessíveis? Seria a indústria do petróleo? Distribuidoras de combustíveis? Empreendedores visionários buscando inovação?
Definitivamente há interesses em jogo.
Em rápida e superficial análise podemos supor que tal inovação seria muito bem-vinda para a grande maioria da população e talvez incômoda para uma pequena parcela que perderia capital financeiro e teria que se reinventar nas novas regras de mercado, abandonar um império na arriscada tentativa de construir outro com concorrentes geralmente em vantagem pelo pioneirismo.
Uma pesquisa na internet pode revelar que tentativas de fabricação de veículos sustentáveis já ocorreram e por alguns motivos que vão desde afirmações sobre falhas de projeto até boicote da grande indústria estabelecida, as pesquisas não evoluíram e a comercialização acabou não ganhando o grande mercado.
Então qual seria o motivo de recentemente algumas empresas ainda se interessarem tanto pela pesquisa e fabricação de veículos elétricos?
Não seria esse um conceito a ser abandonado?
Inovações, conceitos e tecnologias que se mostram benéficas e úteis em larga escala, sempre tem um lugar especial dentro de mentes inquietas que buscam alternativas para entregar as massas o que elas já demonstraram que lhes interessa no quesito utilidade, tais ideias podem sofrer resistência, ataques, boicotes por parte de minorias ameaçadas e podem até ficar escondidas por um período de tempo, porém, o sentimento social de que essas mudanças não se tratam apenas de moda tecnológica mas sim de uma necessidade real, traz repetidamente à tona a questão, até que novas tentativas para inovação são feitas e cada vez com pessoas mais bem informadas e em maior número.
Finalmente chega a etapa onde o confronto fica declarado entre o interesse de grupos já estabelecidos e a necessidade real das massas.
É exatamente nesse momento que, levando seriamente em consideração todo o contexto brevemente citado aqui, começam as pesquisas e debates técnicos que envolvem o processo de tornar realidade o suprimento de tais necessidades, certamente a Tesla Motors representada na pessoa de Elon Musk estava ciente de tudo isso antes de investir um grande capital intelectual e financeiro na fabricação de seus modelos de veículos elétricos de extrema qualidade, engenharia robusta e moderna para uso de energia elétrica e claro, por fim, um design arrojado para complementar o interesse comercial dos produtos (embora ultimamente a Tesla esteja com questões obscuras no que se refere a gestão, os veículos fabricados já demonstraram na prática que funcionam e que veículos elétricos são realidade).
Não há necessariamente um final feliz ou triste para qualquer uma das partes, pois qualquer que seja o resultado ambas se rearticulam de maneira cíclica, pessoas continuarão criando demanda diante de necessidades reais que vão envolver inovação e otimização de processos, abandono de antigos modelos por novos conceitos mais eficientes e sustentáveis. Havendo minorias detentoras de grandes reservas de mercado sustentados por modelos ultrapassados, continuarão sendo uma pedra no sapato da inovação por defender seus próprios interesses.
Nessa breve exemplificação fazendo referência ao mercado automobilístico, percorremos de maneira superficial a suposta transição de um modelo de combustíveis fósseis baseado em petróleo para um modelo de maior sustentabilidade.
Tal disrupção, se consolidada, provavelmente terá benefícios ambientais e socioeconômicos interessantes, mas ainda apenas no âmbito de uma inovação de mercado, uma inovação relacionada a um produto de consumo ou de uso como é o caso dos veículos.
Quando entramos no tema sobre Blockchain, tanto os conceitos fundamentais como os próprios resultados da inovação, embora possam incluir também produtos de mercado, vão muito mais fundo em valores importantes para a sociedade.
Blockchain remete a princípios como confiança, segurança, privacidade, descentralização de poder, transparência.
A grande maioria das tecnologias que hoje fazem nossas vidas mais práticas e confortáveis, surgiu por causa da demanda diante de necessidades apenas.
Blockchain faz isso também, surge diante de uma demanda pautada em necessidades, mas não apenas necessidades de mercado, de consumo ou de sobrevivência, mas também e principalmente de valores e princípios.
Diante disso, temos um esboço sobre a intenção desse e-book, que é mostrar o complexo, intrigante e necessário background que sustenta os conceitos sobre Blockchain e seguir na linha de raciocínio de que tal tecnologia tem potencial não apenas por ser moderna, legal ou estar na moda, mas que a ideia por trás dela está pautada em necessidades preciosas a sociedade e que são buscadas a muito tempo.
No decorrer das próximas páginas, convido você a refletir sobre possíveis padrões a serem identificados e que envolvem desde metodologias e arquiteturas no desenvolvimento de software passando por processos em organizações públicas e privadas até estruturas políticas de poder.
Entender como estas coisas e muitas outras se relacionam e formam o panorama social que hoje podemos observar e nos arriscar a moldar.
Acredito que por tentar mostrar principalmente os fundamentos além da tecnologia apenas, este
material será útil para profissionais interessados de diversas áreas distintas, não apenas desenvolvedores de software ou áreas correlatas de TI, mas também gerentes, gestores, coordenadores, recrutadores da área de tecnologia, educadores em busca de inovação, estudantes, pesquisadores, entusiastas, curiosos e questionadores interessados em saber mais sobre o tema com foco em abordagens corporativas, enfim, justamente pelo fato de não ser uma leitura exaustivamente técnica e sim muito mais conceitual, o pré-requisito é a vontade de saber mais sobre Blockchain naquilo que pode ser a essência por trás da tecnologia.
Ao entender isso o leitor poderá tirar sua própria conclusão sobre o futuro deste conceito.
Material completo no link abaixo:
Parabéns, seu post foi selecionado para o BraZine! Obrigado pela sua contribuição!