Ser pai e ser filho

Eu pensei que eu não ia escrever nenhuma matéria sobre ser pai nas redes sociais, mas pelo jeito eu mudei de ideia. Talvez por que eu sinta que aqui é mais intimista, mais tranquilo de escrever sem se preocupar com pequenos detalhes, questões de quem irá ver, etc.

Há três anos, eu escrevi aqui no steemit esse texto sobre meu pai, faz dois anos que meu pai faleceu. Guardei as melhores memórias dele, e sei que teve um fim de vida no mínimo muito melhor do que todos os vários anos anteriores. E enquanto toda essa trama da vida desenrolava, eu seguia a minha própria jornada de ser pai, tentando sempre, e cada vez mais, ser o melhor pai que podia.

Ironicamente, o meu crescimento como pai se deu principalmente depois da separação. Houve toda uma fase massacrante da incerteza e indecisão de como isso afetaria a minha filha, mas depois de concluir que definitivamente seria melhor, inclusive para ela, a separação, as coisas seguiram em frente. Hoje já faz dois anos que vivencio a paternidade atenta e profunda, pois eu e a mãe de Clarice dividimos os dias em uma espécie de guarda compartilhada sem regras burocráticas, por que apesar de tudo, hoje nos damos bem e conseguimos conversar de forma positiva e funcional. Os dias que Clarice passa comigo são sempre cheios de brincadeiras, de aventuras, não só ela aprende e vivencia coisas novas e que a fascinam (e como é agradável ver os olhos fascinados de uma criança) como eu também aprendo, ou talvez re-aprenda.
É bastante clichê dizer que estamos solidificados em um corpo já adulto e rígido, maturado e empalhado pela poeira do tempo, principalmente mentalmente em termos dessa natureza brilhante, espontânea, a criatividade, a energia. Quando vejo Clarice cheia de vida e energia, sempre disposta a tudo, isso me motiva a sair da zona de conforto (ou seria desconforto?) e viver a experiência dela.
É claro que não é sempre que estamos dispostos a tanta energia e bagunça, mas, entregar-se as experiências é o principal!

Ser pai, hoje percebo, é a ferramenta mais poderosa para tirar-nos de uma ensimesmação, de um estado estagnado de adultidade soberba, cansada e carrancuda. Eu como bom ansioso crônico e pensador compulsivo, não consigo diminuir o nível de importância em guiar essa pequena menina de cinco anos pelos vales insanos e fantásticos dessa vida na terra. É minha responsabilidade como pai dar o meu melhor, ou melhor do que meu melhor, e fazê-la ter prazer na vida, formar um ser humano firme, amante da existência, da natureza, das artes, dos detalhes que fazem os olhos brilhar. E cada novo dia em que ela aparece com algo diferente em sua cabecinha, meus olhos brilham por perceber espantado, que apesar de tudo, tem dado certo! Nós estamos conseguindo :)