Quem não tem cinema, caça com cineclube

Bom dia amigos. vou contar para vocês então a experiência que tivemos ao montar o primeiro e único cineclube de nossa cidade.

O fato é que o cinema, um entretenimento até meio banal para uma pessoa comum pode se tornar uma espécie de símbolo de desejo para aqueles que amam a sétima arte assim como eu e alguns amigos. Quando se descobre o cinema (fora do circuito dos blockbusters) e imagina assistir aquela obra de arte em uma tela imensa, é simplesmente torturante não ter essa opção.

Eu conheço a magia do cinema, por que já viajei para Curitiba (a cidade "grande" mais próxima de São Mateus do Sul, minha terra). A primeira vez que fui em um cinema foi com a escola, não lembro de vi Tarzan (da Disney) ou Titanic. Mas foi poderoso, emocionante.
De tempo em tempo eu tinha a oportunidade de ir para lá ou Ponta Grossa, que não é tão longe e assistir algum filme (já que estava lá).

Mas faltava aquele detalhe, de ter o cinema ao alcance, sempre, e o mais importante com filmes maravilhosos, que emocionam, que marcam, que chocam, o cinema puro e poderoso. Em determinado momento, cansados da total falta de suporte e apoio para esse tipo de necessidade cultural em nossa cidade (sempre engatinhando na cultura), eu e um amigo resolvemos se mexer e independentes de qualquer verba ou ajuda, criamos o Cineclube Araucária (o nome, pelo simbolismo de nossa região).

Nossa primeira exibição, em uma sala de eventos pequena cedida gratuitamente, com um data-show emprestado, caixa de som improvisada, participação de umas 14 pessoas. Foi ótima! A sensação pré-evento é complicada, muita correria, muita preocupação, muito estresse pra fazer tudo dar certo como o previsto.
De lá para cá exibimos muitos filmes, sempre prezando pela qualidade e conteúdo. Sempre sem cobrar nada (ou as vezes apenas um valor simbólico para ajudar no custo de algum equipamento alugado), quase sempre o fim da exibição gerava discussão a respeito do filme ou do próprio projeto.

A lista de filmes que lembro de cabeça teve entre outros, estes clássicos:

• Laranja Mecânica
• O iluminado
• Pulp Fiction
• Edward mãos de tesoura
• Contato
• The Doors
• O grande Lebowics
• O sal da terra
• Cinema Paradiso
• Minha amada imortal

E mais uma porção.

Normalmente fazíamos uma exibição por mês, durante a primeira fase, as exibições foram em um antigo cinema/anfiteatro da cidade com uma estrutura bem própria para isso, mas claro, tivemos que mandar costurar um telão, improvisar, descer ele manualmente em frente ao palco pendurados no teto, e assim por diante. Tivemos muitas horas de dor de cabeça, estress, problemas no filme, no audio, na exibição, receio por exibir cópias piratas e sem nenhuma licença e assim por diante.
Tivemos uma época de hiato, onde não tinhamos nem tempo nem paciência pra continuar, depois uma reformulação dos envolvidos, mudança de local de exibição, até que enfim, o projeto entrou em dormência, por que simplesmente cansa você não ter apoio cultural. Não ter equipamentos necessários funcionando, não ter ajuda financeira e nem mão de obra básica pra trabalhar.

Cogitamos inúmeras vezes tentar um projeto pela Lei Rouanet (que eu não sou a favor, inclusive) mas é complexa o suficiente para que dois leigos em leis e projetos desistam, e até tivemos algumas reuniões com possíveis interessados, mas nada caminhou muito bem. E então, decidimos que diante de tanto stress, o cineclube Araucária iria dormir alguns anos, e quem sabe num futuro mais viável, ele acorde com todo o poder que tem para dar luz a aquela sala escura, e envolver os espectadores com a magia do cinema, da forma que só um ambiente como esse pode oferecer.