A forja do próprio corpo

in #pt7 years ago

Há muito tempo tenho dado voltas nesse assunto sem de fato chegar em algum lugar efetivo, e talvez isso fale mais sobre mim do que eu gostaria de acreditar. Mas tenho claro para mim alguns conceitos que gostaria de trazer aqui, ainda que esteja falando disso, em partes apenas de forma teórica.

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Uma vasta parcela de pessoas, de inúmeras culturas diferentes e concepções de realidades tem em comum uma ideia que está de certa forma ligada inerentemente ao desenvolvimento da sociedade e do homem como ser racional e avançado. Essa ideia é do domínio do próprio corpo, ou melhor, da forja do próprio corpo.

Tal conceito pode ser visto de uma forma bastante simplista se pensada em termos de simples "emagrecimento", "musculação", mas a forja da qual estou falando tem uma raiz muito mais profundo, ligada diretamente ao intelecto, ligada à alma do sujeito. O desejo do domínio de si, de uma forma praticamente estoica, impondo auto-restrições e disciplinas firmes é uma ambição daqueles que sabem que só mesmo dominando a mente e o corpo nos tornamos donos de nós mesmos.

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Já não é segredo para ninguém que vivemos descaradamente numa era do comodismo, da frouxidão de espírito, da ignorância camuflada pelo raso conhecimento em infinitas amenidades, dos memes que amortecem nossos sentimentos e da barriga de trigo assistindo a "nova televisão". Hoje em dia temos as facilidades de ao menos falar sobre isso, a internet nos traz imensas vantagens, inclusive de gerar esse tipo de crise de crescimento através de aprofundamentos teóricos pouco possíveis em períodos anteriores. Mas o que vemos aqui acima de tudo isso, é que existem tipos de homens, tipos de seres humanos, melhor dizendo.

A condição da disciplina, da determinação, força e intelecto de aço é indiferente ao acesso a informação ou não. E para isso basta você pensar naquele homem da lavoura, que passa a vida no sol com suas ferramentas, arando a terra, cortando lenha, puxando peso, fazendo seu corpo trabalhar para o que veio de fato fazer, esse tipo de homem pode estar distante de um intelecto sofisticado, mas seu conhecimento de vida (quando não prejudicado por inúmeros fatores) traz uma sabedoria única, poderosa, tão válida quanto qualquer outra. É mais raro ver o meio termo, o homem do meio, onde exercita a intelectualidade como um músculo, seu espírito e filosofia da mesma forma que trabalha seu corpo, dia após dias, não apenas pelo hedonismo ou desejo de se moldar esteticamente, mas sim como uma transmutação da carne, da materialização da alma através do corpo com o mesmo nível de força.

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Isso me pega de jeito, dado que tenho um fogo intenso em minha alma e em meu intelecto, porém completamente titubeante em minha forma física, sei que passei por inúmeras fases e que não posso julgar-me por fases onde não tinha o controle para poder mudar antes. Mas meu universo vem caminhando para esse ponto específico, onde enfim, fica impossível continuar aceitando qualquer desculpas para continuar sendo um simples peso morto, com barriga flácida e falta de postura. Ironicamente tenho um desafio extra que é um problema postural incorrigível, onde só mesmo a musculação e a doutrina de coluna ereta podem camuflar minha postura que aos olhos pouco treinados, parece algum tipo de descaso com meu próprio corpo.

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A disciplina de transformar o corpo está atrelada a uma vasta gama de atitudes e posicionamentos, o que torna isto não apenas difícil, mas também de certa forma heroico. Talvez poucas coisas possam trazer tamanha mudança para o homem do que o domínio de si próprio. A disciplina da alimentação (a exata para você e não para todos), a disciplina do exercício físico, da resistência física, do fôlego, de atividades físicas naturais (como escalada, trilha, corrida na natureza, natação, etc), a concentração, a meditação, enfim.

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Utilizar o corpo no seu máximo não quer dizer nenhum tipo de deformação estética do tipo "hipertrofia", mas sim você saber para que cada fração de célula serve, sentir-se pleno dentro de si.

É uma ambição e tanto não?

Fonte das imagens:
1, 2, 3 e 4


Obrigado por ler!


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Muito boa reflexão!
Me lembrou algo que minha professora de Kung-Fu falava:

O corpo fraco domina, o corpo forte é dominado

Sempre que ela falava isso eu achava estranho, como pode o fraco dominar? Mas veio o entendimento que um corpo fraco te domina, nao te deixa fazer as coisas como correr, escalar ou mesmo ficar muito tempo sentado na mesma posição, enquanto um corpo forte vai ser dominado por você, e te dar todas as possibilidades de movimento.
Já fui muito mais em forma do que hoje, mas nunca tive paciência pra academia. Eu treinava muito circo e isso me dava um condicionamento muito forte. Acredito que uma pratica onde a forja do corpo seja uma consequência é o melhor caminho para nós, que não estamos interessados em estética mas sim em cuidar do nosso templo corporal. Seja caminhadas, artes marciais, circo, yoga...
Gratidão por compartilhar essa reflexão!
Forte abraço!

Salve guardião. Como vai? Muito bom o pensamento de sua professora cara, e tem muito nítida essa puxada oriental de não nos dar entendimento na primeira percepção! heheh.
Realmente você pegou bem a ideia, fazer das atividades do dia, da vida, o procedimento necessário para o corpo ser forjado. E poxa, é muito difícil pensar isso quando se trabalha em escritório, como eu, ainda que faço uma ou outra atividade variada durante o dia. Mas é um negócio a se estudar ainda.
Valeu!!

Valeu! Tb acho que as artes marciais realmente podem servir de motivação para intelectualizar a atividade física :-) Tem tb a dança e o teatro, inclusive existe uma lenda que o diretor Antunes Filho (em cujas peças o ator tb é cenário) exigia que iniciantes em seu grupo lessem A arte cavalheiresca do arqueiro zen e conseguia detectar qdo o aprendiz tinha lido o livro, só depois disso ele começava a ensaiar com os veteranos. Tem a historinha do bushido (caminho do guerreiro) que conta que por anos os samurais discutiram qual o sentimento deviam ter na hora que matavam alguém, um dia encontraram a resposta, vendo um marceneiro caminhando sobre ripas de madeira no telhado alto de um templo em construção, ele andando rápido e firme e seu aprendiz seguindo atrás, desequilibrado e cambaleante. O samurai percebeu que o mestre marceneiro não tinha consciência do esforço que fazia e a técnica que possuia, era como o ar que respira. Daí concluíram que o estado ideal na hora de assassinar alguém na luta deveria ser o mesmo :-) Sucesso e boa sorte mais uma vez!!

Concordo plenamente, amigo Tamanaha. Interessante essa questão do arqueiro zen. Esse é um ótimo livro, gosto por demais dele, e realmente tem grandes ensinamentos. Sou um apreciador geral da forma de pensar oriental e tenho muito a aprender com eles, inclusive, me diga, você conhece o Mishima que eu citei ali? É chamado por muitos de "o último samurai", estou ainda iniciando meu conhecimento nele, mas é incrível. E quanto a essa história do marceneiro e dos samurais, perfeito, é isso mesmo! Inspirador. Sempre pensei nisso, de ter tal domínio sobre as coisas a ponto de faze-la sem nem mesmo perceber, no automático.

Eu não li nada do Mishima mas assisti um filme sobre a vida dele e li algumas matérias. Pelo que entendi foi um escritor muito talentoso que resolveu encarnar um resgate do bushido mas foi interpretado como radical nacionalista e militarista, saudosista do imperialismo japonês e sua ideologia de dominação asiática. No começo sua postura e de seus seguidores era encarada como performance artística mas culminou com um suicídio ritualístico samurai que chocou todo mundo. Tem tb um lado da vingança e superação de quem foi doentinho e fracote na infância e que superou tudo isso virando faixa preta em artes marciais, essa mesma mitologia existe no jiu-jitsu brasileiro e seu criador sr. Gracie. Os agarramentos e luta no chão seriam formas dos mais fracos vencerem os mais fortes. O consumo do açaí, hj espalhado pelo mundo, tb replicaria um ritual pós treino da família Gracie, original do Pará. Valeu!

Fantástico! Entendo muito bem o que você quer dizer. Logo de início me veio à mente o Mishima, para então vê-lo listado no post!
Às vezes me pego pensando as mesmas coisas e sei que não sigo como deveria nessa área. Não sei você, mas eu tenho a tendência a dar mais valor às coisas mentais. Às físicas, também, mas quando são coisas com um "objetivo", como ir para o mato e fazer uma longa caminhada cheia de obstáculos. Não consigo adotar a ideia de ir para uma academia. Lembro que na última vez que estava fazendo, para diminuir a impressão de tempo perdido, eu tentava ouvir audio-aulas de idioma ucraniano hahahaha
Mas muito bom seu texto e desejo-lhe sorte nessa jornada!

Obrigado amigo, assim como você eu realmente estou ainda muito atrelado à mente, porém caminho em passos lentos para essa mudança, para equilibrar o intelecto e o físico. Digo o mesmo que você, que o prazer de tarefas naturais é muito superior do que a prática de academia ou ginástica condicionada, principalmente por que o ambiente e a cultura desse tipo de mundo é bem complicado, e o tamanho do ânimo que é necessário para você não desistir daquela coisa é imenso. Mas sinceramente, eu gosto de academia, já fiz algumas épocas, até uma bem recente, só parei por questões financeiras mesmo. A ideia de ouvir curso de ucraniano é perfeita! Eu ouvi muita coisa util e interessante nesses períodos, hahah. As vezes, se não nos é possível ir para o mato com certa constância, vale a pena dar uma chance para o mundo da academia. hehe.
Valeu

Parabéns, seu post foi selecionado pelo projeto Brazilian Power, cuja meta é incentivar a criação de mais conteúdo de qualidade, conectando a comunidade brasileira e melhorando as recompensas no Steemit. Obrigado!

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Caramba postagem TOP, realmente estamos em uma era de comodismo mesmo!! boa postagem!!!

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Estamos, meu caro, e infelizmente não dá pra culpar um ou outro fator apenas, é o zeitgeist, o espírito do desse tempo mesmo. O que pode ser feito, é o esforço pela mudança, pelo menos nos pontos que nos tocam.

Depois de ler este texto, o nome que me vem á cabeça é o Bruce Lee, com uma filosofía de cultura do corpo muita parecida com a aqui apresentada.

Realmente! Bruce Lee é um cara que levava isso a sério, tanto que até o coloquei no post, porém sei muito pouco sobre ele ainda, é uma pessoa que quero aprofundar o conhecimento! Obrigado por ler e comentar!

Parabéns! Você está participando do projeto #ptgram power! Recompensamos a participação ativa na comunidade, bem como bons conteúdos! Saiba qual é sua pontuação, e como aumentá-la.

Ótimo post. Trabalhei em uma academia de artes marciais e durante esse tempo eu exercia a modalidade em acrobacia. Eles trabalhavam muito esse tipo de filosofia. Eu gostava bastante da arte e foi ótimo para meu desenvolvimento a partir e então. Anda mais por eu ter feito isso aos meus 18 anos.

Legal Frany! Imagino que tenha sido bem proveitoso para você! Em academias minha unica experiência até hoje foi em musculação mesmo (e olha lá). Obrigado por ler e comentar!

Opa. Tamo aqui pra isso. Hahahah

Cara, tem uma cota que venho refletindo sobre esse tema e sobre porque evito certas paradas. As vezes não fazemos certas coisas não só pela dor imediata, mas pelas experiências que tivemos no passado, pelo que associamos aquilo.
Acredito que qualquer processo, seja físico, seja mental, seja financeiro, social, etc., partindo do individual, não deve ser forçado. Tem uma frase muito interessante de um cara chamado Art Williams(recomendo ver esse vídeo) em que ele fala que tudo que podemos fazer é tudo que podemos fazer (All you can do, is all you can do) e isso é uma realidade.
Podemos fazer o que podemos fazer, e cada vez mais vamos incrementando.
Já tive fases em que meu físico estava melhor, e em que ele estava pior, e há um bom tempo decidi que se não fizesse exercicios elaborados, faria pelo menos um básico de força e alongamento, e sinceramente, já me vi em várias situações em que gente mais magra, mais jovem e mais saudável aparentemente do que eu, não conseguiu fazer o que fiz, ou no final tava em condições piores...
Mas mais do que olhar para outros, é uma questão de olhar para nós mesmos, e irmos com calma. Nem todo mundo é superdisciplinado, nem todo mundo tem sangue nos olhos, mas quase todo mundo pode aos poucos desenvolver tudo isso. O importante é não parar.
E talvez para nós que somos mais introspectivos, precisamos ir construindo dentro de nós esse controle, até que ele extravase para o exterior.
Ter a consciencia de que até os grandes(como Bruce Lee - recomendo ver o filme ou pesquisar a história do filme A origem do Dragão) passaram por desafios é algo que ajuda também!!
Enfim, desejo desenvolvimento e satisfação nessa sua caminhada!! Kaizen!!

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