[Diário de um Pai 003] - Sorria, você está sendo filmada (e fotografada)

in #pt7 years ago (edited)

Se você nasceu antes de meados dos anos 90,

é provável que a quantidade de registros da sua infância seja bem limitada. Eu por exemplo tenho alguns álbuns antigos na casa da minha mãe. Lá eu posso ver um número considerável de fotos de quando eu era bebê, isso porque meu pai adorava fotografar, então os registros foram constantes, mas nem se comparar a quantidade de fotos e vídeos que fazemos de nossos filhos hoje em dia.

Até poucos anos atrás, eu costumava fazer uma grana prestando serviço de suporte técnico para dispositivos da Apple. Um dos meus clientes na época era um casal com muito dinheiro e cheio das últimas novidades da maça. O filho deles deveria ter pouco mais de 4 anos de idade na ocasião.

Um dos problemas que a mãe enfrentava, estava em como lidar com os backups das fotos e videos realizados por ela, que usava uma Canon 5D MK II. Sim, ela registrava cada minuto do filho com uma câmera com mais de 21.1 megapixels, em RAW, gerando arquivos enormes (aprox. 25Mb cada foto). Eram milhares de fotos, tanto que o iPhoto entrava em colapso ao tentar rodar o banco de dados do aplicativo. Ela precisava de um app profissional. Eram pilhas de HD externo para dar conta de salvar tudo e mesmo assim aconteciam problemas, já que fazer backup disso tudo via wi-fi era demorado e constantemente interrompido por ela.

O ponto é, era muita foto desnecessária que precisava ser descartada.

Como eu lembro da minha infância


Eu lembro pouco da minha infância. Para mim, tudo parece um sonho, algo que não vivi de verdade. Não sei dizer qual a minha lembrança mais antiga, talvez alguma coisa com 4 anos de idade. Ah e tudo naquele tom desbotado e meio fora de foco. Videos então, zero. Nenhum que possa mostrar como era minha voz ou como eu andava.

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Photo by Jakob Owens on Unsplash

Antigamente, devido a limitação imposta pelo número (e custo) de fotos que cabiam em um rolo de filme (12, 24 e até 36), tínhamos que ter um motivo especial para sair clicando. Um aniversário, uma viagem, um momento de lazer em família. Hoje, qualquer coisa nova que meu bebê faz, eu e minha esposa sacamos o celular para registrar.

É foto dela rindo, trocando de roupa, tomando banho (clássica ter ao menos uma para passar vergonha quando adulto, a Joana deve ter umas duas dúzias somente no meu celular), passeando de manhã (toda manhã uma foto nova, igual a do dia anterior) e assim segue.

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Diga X!

Como será para ela


Quando criança, nossa imaginação corre solta, então é perfeitamente normal lembrar de coisas que não aconteceram de fato. Realidade e imaginação parecem ocupar o mesmo espaço na memória.

Para ela, imagino que se lembrará da infância com menos fantasia. Vai ficar fácil para ela conferir as inúmeras fotos, videos e reconstruir as memórias com mais detalhes. Sabe aquela sensação de lembrarmos de um local da infância e acharmos que era gigante, mas quando voltamos lá anos depois, tudo parece que encolheu? Então, não sei se para ela vai funcionar assim. Além disso, as cores, os detalhes. Tente ler o que estava escrito na capa de uma revista em cima da mesa em uma foto revelada há mais de 30 anos. No caso daquela minha cliente, com a resolução e lente da câmera que usava para registrar seu filho, é capaz até de dar zoom na formiga andando no gramado.

E eu continuo desenhando


Eu tenho medo de esquecer. Meu pai morreu em 2014 devido as consequência do mal de Alzheimer. Eu vi a mente dele apagando, como um computador sendo formatado. Era triste olhar nos olhos dele e ver que não fazia ideia de quem eu era. Pior, ele morreu sem poder olhar para a trás e se sentir grato e orgulhoso pela vida que teve.

Tristeza a parte, eu comecei com esta história de registrar em desenhos tudo de legal que eu vivo hoje em dia. Seja no registro semana a semana da gravidez no azulejo, ou então usando um caderninho pequeno para ilustrar dia após dia de alguma viagem bacana.

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Olha só filha, você poderá ver minhas memórias aqui no Steemit ou no velho caderno que deixei no meu armário

No caso da Joana, eu resolvi criar um caderno de desenhos onde registro de vez em quando coisas que acho marcante. Junto, eu deixo um pequeno texto falando diretamente com ela. Meu objetivo é estar prevenido de que se qualquer coisa venha acontecer comigo, ela saberá como o pai dela se sentia. Algo que creio será de muito valor na vida dela.


É importante termos registros da nossa história. Para a nova geração, a tecnologia irá criar uma nova forma de lidarmos com as lembranças. As fotos da Joana estão aqui no Steemit, no Instagram, no Facebook, no Whatsapp.

Quem sabe um dia, tudo isso possa ser montado num ambiente de realidade virtual e ela poderá “entrar" novamente nestes momentos. Hoje, a quantidade de informação a ser absorvida é tão grande, que é natural nos apoiarmos em tecnologia para dar uma força para a memória.

Seja como for, filha, você não estará livre das minhas lentes ou lápis, e minha memória estará viva para quando quiser consultar.


Um bom dia para todos!


Obrigado pela leitura e se gosta do que escrevo, upvote! ;) e follow!


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Que idéia maravilhosa! Com certeza ela vai amar ter essa recordação no futuro. Infelizmente eu não tenho muitas fotos da minha infância e apenas uma de quando era bebê, já chorei muito por isso aliás, e pra evitar mais drama no futuro eu resolvi revelar muitas fotos atuais, de viagens, família, com meu namorado. Acho mágico abrir um "livro" e ver tanta recordação ali, é uma cápsula do tempo. Ótimo post, valeu!

É algo mágico para mim também. O registro de uma foto simplesmente carece de detalhes sobre o que estava acontecendo ali. No desenho eu posso ser mais abstrato e com as anotações deixo apenas o essencial, assim como era feito antigamente com os cartões postais de viagem. Bons tempos!
Obrigado pela leitura.
Abraços!

Parabéns, seu post foi votado e compartilhado pelo projeto Brazilian Power, cuja meta é incentivar a criação de mais conteúdo de qualidade, conectando a comunidade brasileira e melhorando as recompensas no Steemit. Obrigado!

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@dudutaulois, posso contar nos dedos que tenho a quantidade de fotos que tirei na minha infância. Não sei, mas acho que essa quantidade pequena de fotos faz aquela época ser muito mais interessante, acho que por conta de precisarmos utilizar mais a nossa memória, faz com que ela se torne, digamos... mais memorável do que quando temos milhares de fotos diferentes mas que são totalmente iguais.

Realmente, um pouco da magia (como conhecemos) das lembranças irá se perder para essa nova geração. Mas também não dá pra negar a importância de se conhecer o próprio passado para se entender no presente. Fotos por fotos talvez não digam nada, por isso minha escolha em complementar com desenhos. Daqui uns anos saberei do resultado da minha experiência.
Grande abraço!

Boa, @dudutaulois! Ainda tenho álbuns de fotos da minha infância, como o processo era bem mais trabalhoso são apenas algumas de cada fase. Aniversários, primeiro dia de aula, passeios eram alguns eventos registrados. Hoje, tem foto todo dia. Hehehehe! Vai ser interessante quando a tua filha crescer e ver tudo registrado ;)

Só quero ter certeza que ela lembre de como eu me sentia neste momento.
Obrigado Casão!
Grande abraço!

Também creio que hoje em dia tiram e guardam muita foto desnecessária, como foi o caso dessa mulher.

Mas pelo menos 1 vez por mês eu tento fazer um registro.

Já a ideia de Alzhaimer também já me passou pela cabeça, mesmo não tendo histórico na família.

Para isso guardo várias lembranças pontuais.

Olá @vempromundo! A doença é super complicada e lentamente consome tudo que você tem guardado na memória. Eu não sei qual será o meu destino, mas ao menos estou fazendo algo para ter certeza que irá durar. É a minha forma de vencer este mal.
Grande Abraço!

Tive uma infância muito registrada tanben, minha mãe tirava muitas fotos, mas naturalmente, analógicas. Eu tenho certo conflito a respeito desse vício em registrar tudo o tempo todo não só porque acaba se tornando vago e menos importante (você costuma abrir a pasta de fotos do mês de dezembro de 2014 com 200 fotos? ) mas também porque não temos mais a ambição de revelar de fazer álbuns físicos, como vc disse, não nos limitamos num rolo de 36 poses. Porém sou muito fascinado pelo que pode vir a se tornar essa tecnologia logo mais e realmente acredito que poderemos acessar os registros fotográficos de uma forma de imersão, e não apenas vendo fotos aleatórias em pastas no pc.
Tenho uma quantidade brutal de fotos e vídeos da clarice, e não vou parar de fotografar haha. Mas tento me esforçar para absorver da melhor forma o momento, apenas registro naquela tentativa fugaz de pausar o tempo e contemplar esses momentos mágicos para sempre.

Realmente é um exagero a quantidade de fotos que batemos. Eu lembro que a Microsoft trabalhou num projeto super interessante que tinha como objetivo criar ambientes 3D a partir das fotos tiradas de um determinado local. Por exemplo, se você for buscar fotos de turistas no Coliseu, encontrará milhares de fotos em diferentes ângulos e posições. O app que eles fizeram era capaz de entender a posição espacial das fotos e ir montando este ambiente 3D navegável. Uma pena que o projeto morreu:


Mas acho que esse será o caminho, podermos visitar nosso passado em um ambiente VR.
E no fim das contas, como resistir e não fotografar e filmar cada novidade destes pequenos?
Grande abraço e obrigado pela leitura e comentário.

Eu amo fotos e registrar tudo tb! Ótima ideia, sua filha vai aproveitar muito cada registro. O desenho está muito lindo!!

Obrigado @leticiachiantia! Essa pequena sempre me mostra algo novo, então inspiração não faltará.

Uma ideia muito interessante a de desenhar momentos e escrever sobre eles! Principalmente depois da experiência que teve com o seu pai. Às vezes esquecemo-nos que a vida moderna pode levar as nossas memórias de forma repentina. Tenho o privilégio de ter muitas fotos da minha infância, da minha idade adulta nem por isso porque mandar imprimir agora já sai do meu bolso! :D Da minha filha também estou constantemente a filmar e a fotografar :) De vez em quando tento fazer uma seleção e mando imprimir algumas. Tenho receio das tecnologias, de simplesmente estas memórias desaparecem do disco! Acho importante que elas estejam num álbum como antigamente e não "na cloud!". Um dia ela também vai querer ver e tocar nas fotos, é assim que construímos aquilo que são as nossas memórias sim :)

O "cloud" tomou nossos vidas. Esse lugar etéreo e místico onde nossos dados são salvos. Você faz bem em imprimir e guardar algumas recordações, até porque existe algo nostálgico em se montar álbuns de fotografia. O digital facilita a nossa vida mas também tira a essência e prazer de muitas coisa.
Obrigado pela leitura! Grande abraço

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