Como a Igreja Católica Construiu a Civilização Ocidental (Thomas E. Woods Jr.)

in #pt6 years ago (edited)

A Igreja Indispensável

Philip Jenkins, renomado professor de história e estudos religiosos da Pennsylvania State University, chamou ao anti-catolicismo “o último preconceito aceitável nos Estados Unidos”. É difícil contestar esse juízo: nos nossos meios de comunicação e na nossa cultura popular, pouca coisa é inadmissível quando se trata de ridicularizar ou de satirizar a Igreja. Os meus alunos, quando têm alguma noção a respeito dela, só sabem mencionar a sua pretensa “corrupção”, sobre a qual ouviram intermináveis histórias de duvidosa credibilidade dos seus professores do ensino médio.

A questão é que, no ambiente cultural da atualidade, é fácil esquecer — ou não tomar conhecimento sequer — tudo aquilo que a nossa civilização deve à Igreja Católica. Muitos reconhecem que ela influenciou, sem dúvida, a música, a arte e a arquitetura, mas não vão além disso. Para o nosso estudante do ensino médio, a história do catolicismo pode ser resumida em três palavras: ignorância, repressão e estagnação; ninguém fez o menor esforço por mostrar-lhe que a civilização ocidental deve à Igreja o sistema universitário, as ciências, os hospitais e a previdência, o direito internacional, inúmeros princípios básicos do sistema jurídico, etc. etc. O propósito deste livro é precisamente mostrar essas influências decisivas, mostrar que devemos muito mais à Igreja Católica do que a maior parte das pessoas — incluídos os católicos — costuma imaginar. Porque, para sermos exatos, foi ela que construiu a civilização ocidental.

Como nem é preciso dizer, o Ocidente não deriva apenas do catolicismo; ninguém pode negar a importância da antiga Grécia e de Roma, ou das diversas tribos germânicas que sucederam ao Império Romano do Ocidente, como elementos formadores da nossa civilização. E a Igreja não só não repudiou nenhuma dessas tradições, como na realidade aprendeu e absorveu delas o melhor que tinham para oferecer.

Nenhum católico sério pretende sustentar que os eclesiásticos tenham acertado em todas as decisões que tomaram. Cremos que a Igreja manterá a integridade da fé até o fim dos tempos, não que cada uma das ações de todos os papas e bispos que já houve esteja acima de qualquer censura. Pelo contrário, distinguimos claramente entre a santidade da Igreja, enquanto instituição guiada pelo Espírito Santo, e a natureza inevitavelmente pecadora dos homens que a integram, incluídos os que atuam em nome dela.

Mas estudos recentes têm submetido a revisão uma série de episódios históricos tradicionalmente citados como evidências da iniquidade dos eclesiásticos, e a conclusão a que chegam depõe em favor da Igreja. Hoje sabemos, por exemplo, que a Inquisição não foi nem de longe tão dura como se costumava retratá-la e que o número de pessoas levadas aos seus tribunais foi muito menor — em várias ordens de magnitude[1] — do que se afirmava anteriormente. E isto não é nenhuma alegação nossa, mas conclusão claramente expressa nos melhores e mais recentes estudos[2].

De qualquer modo, com exceção dos estudiosos da Europa medieval, a maioria das pessoas acredita que os mil anos anteriores à Renascença foram um período de ignorância e de repressão intelectual, em que não havia um debate vigoroso de idéias nem um intercâmbio intelectual criativo, em que se exigia implacavelmente uma estrita submissão aos dogmas. Ainda hoje continua a haver autores que repetem essas afirmações.

[…]

Hoje em dia, é difícil encontrar um único historiador capaz de ler semelhantes comentários sem rir. Essas afirmações contradizem frontalmente muitos anos de pesquisa séria, e no entanto os seus autores — que não são historiadores de profissão — repetem com inteira despreocupação esses velhos e gastos chavões. Deve ser frustrante lecionar história medieval! Por mais que se trabalhe e se publiquem evidências em contrário, quase todo o mundo continua a acreditar firmemente que a Idade Média foi um período intelectualmente e culturalmente vazio e que a Igreja não legou ao Ocidente senão métodos de tortura e repressão.


[1] Isto é, no número de zeros depois dos algarismos significativos. Concretamente, não foram milhões, como às vezes se diz, mas centenas (N. do E.).
[2] Veja-se, por exemplo, Henry Kamen, The Spanish Inquisition: A Historical Revision, Yale University Press, New Haven, 1999; Edward M. Peters, Inquisition, University of California Press, Berkeley, 1989.

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CONTRACAPA

Se perguntarmos a um estudante universitário o que sabe do contributo da Igreja Católica para a sociedade, a sua resposta talvez se resuma a uma palavra: “opressão”, por exemplo, ou “obscurantismo”. No entanto, essa palavra deveria ser “civilização”.

O autor destas páginas, Thomas Woods, doutorado pela Universidade de Columbia, mostra como toda a Civilização Ocidental nasceu e se desenvolveu apoiada nos valores e ensinamentos da Igreja Católica. Em concreto explica, entre muitas outras coisas:

• Por que o milagre da ciência moderna e de uma filosofia que levou a razão à sua plenitude só puderam nascer sobre o solo da mentalidade católica
• Como a Igreja criou uma instituição que mudou o mundo: a Universidade
• Como ela nos deu uma arquitetura e umas artes plásticas de beleza incomparável
• Como os filósofos escolásticos desenvolveram os conceitos básicos da economia moderna, que trouxe para o Ocidente uma riqueza sem precedentes
• Como o nosso Direito, garantia da liberdade e da justiça, nasceu em ampla medida do Direito canônico
• Como a Igreja criou praticamente todas as instituições de assistência que conhecemos, dos hospitais à previdência
• Como humanizou a vida, ao insistir durante séculos nos direitos universais do ser humano – tanto dos cristãos como dos pagãos – e na sacralidade de cada pessoa.

Num momento em que se propaga uma imagem da Igreja como inimiga dos progressos da ciência e da técnica, e da liberdade do pensamento, este é um livro que desfaz preconceitos, corrige clichês e ensina inúmeras verdades teimosamente omitidas no ensino colegial e universitário.

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