Nação do Islã, Malcolm X e o Novo “Partido dos Panteras Negras”

in #pt7 years ago

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A Nação do Islã é um grupo islâmico que surgiu em 1930, criado por Wallace Fard Muhammad, considerado tanto o Messias do Judaísmo quanto o Mahdi do Islamismo. O grupo tinha como objetivo conduzir o “retorno” dos pretos à origem africana e islâmica, e fundar uma nação negra. Consideravam que a palavra “negro” era consequência da escravidão, então, se intitulavam “muçulmanos pretos”.

Segundo eles, o povo original da terra é o povo africano, e os brancos são uma raça de “demônios de olhos azuis” criados por um cientista chamado Yakub (na Bíblia, Jacó) através de uma eugenia, que defendia a morte de bebês negros e o não matrimônio entre raças diferentes para o fortalecimento de uma raça pura. Nas palavras de um dos líderes, Louis Farrakhan:

“Vocês não tem sido santos no caminho que tomaram em relação aos povos escuros do mundo, e até mesmo em relação ao seu próprio povo. Mas, na verdade, qualquer ser humano que se entrega à obra do mal poderia ser considerado um demônio. Na Bíblia, no “Livro das Revelações”, se fala sobre a queda da Babilônia. Se diz que a Babilônia caiu porque ela se tornou morada de demônios. Nós acreditamos que a antiga Babilônia é um símbolo da moderna Babilônia, a América.”

Entre as convicções mais polêmicas, defendiam que os judeus eram sanguessugas que enfraqueceram a sociedade alemã e mereciam ser exterminados pelos nazistas:

“Todo mundo sempre fala sobre Hitler exterminando 6 milhões de judeus…mas ninguém nunca se perguntou porque Hitler fez isso. O que eles [judeus] fizeram para essas pessoas? Eles foram lá na Alemanha, como fizera em todos os lugares, suplantaram, usurparam, inverteram, e um alemão, em seu próprio país, quase que teria que ir a um judeu pedir dinheiro. Eles enfraqueceram a própria estrutura da sociedade.”

Em 1962, George Lincoln Rockwell, fundador do Partido Nazista Americano, foi convocado por Elijah Muhammad para discursar em um comício da Nação do Islã. O objetivo dos dois grupos era o mesmo: “separação ou morte!”.

Malcolm e o islamismo

Malcolm X começou a se aproximar da Nação do Islã em 1946 e se tornou rapidamente um dos ministros e porta vozes do movimento.

Por muito tempo Malcolm realmente acreditou que os brancos eram encarnação do mal, e defendia a separação dos negros em uma só nação. Mas suas divergências e decepções passaram a ficar mais claras, como quanto ao escândalo de Elijah Muhammad ter tido seis filhos com suas secretárias, quanto ao desejo de participar mais ativamente dos protestos por direitos civis e quanto a suas declarações sobre a morte de John F. Kennedy.

Começa a se aproximar de ideias de esquerda e anti imperialistas, se reúne com Fidel Castro e Che Guevara e se opõe à presença militar americana no Vietnã e no Sudeste Asiático. Malcolm X deixa a Nação do Islã em 1964, e parte para uma peregrinação à Meca. Em uma de suas cartas, diz:

“Durante os últimos 11 dias aqui, no mundo muçulmano, tenho comido do mesmo prato, bebido do mesmo copo e dormido na mesma cama (ou no mesmo tapete), sempre rezando ao mesmo Deus, com irmãos muçulmanos cujos olhos são do azul mais azul, os cabelos do louro mais louro, a pele do branco mais branco. E nas palavras, atos e ações dos muçulmanos “brancos” senti a mesma sinceridade que encontrei entre os muçulmanos africanos pretos da Nigéria, Sudão e Gana.

Éramos verdadeiramente iguais (irmãos), porque a convicção em um só Deus removera o “branco” de suas mentes, o “branco” de seu comportamento e o “branco” de suas atitudes.

Pude compreender, por isso, que se os americanos brancos puderem aceitar a Unidade de Deus, talvez então possam aceitar também na realidade a Unidade do Homem…e deixar de avaliar, estorvar e prejudicar os outros com base em suas “diferenças” de cor.”

Nessa peregrinação, começa a ter visões de negros, brancos e mulatos orando juntos pelo mesmo deus e acreditando nos mesmos princípios. Convertido ao Islamismo tradicional, se torna sunita, e funda uma instituição de defesa dos direitos humanos, em 1965.

No mesmo ano, é assassinado por membros da Nação do Islã.

O Novo Partido dos Panteras Negras

Os novos Panteras foram fundados em 1989, liderado pelo ministro da Nação do Islã, Khalid Abdul Muhammad até sua morte, em 2001. Rejeitam o marxismo, são nacionalistas negros, pan africanistas e já receberam críticas severas do único fundador dos Panteras ainda vivo, Bobby Seale:

“Nossa plataforma e programa de 10 pontos era sobre todo poder ao povo. Começamos na comunidade afro americana. nos tornamos uma profunda organização. Mas nossos princípios — nós nunca fomos o que chamam de xenofóbicos negros nacionalistas. Não éramos separatistas negros nacionalistas. Isso não estava em jogo.

Eu criei esse partido. Essa organização veio do meu coração, mente e alma. Comunidade negra unida, sim, mas apenas como catalizador para ajudar a humanizar o mundo.

Odiar outra pessoa por sua cor de pele ou etnia — nós não fazemos isso. Esse não é o objetivo. O objetivo é libertação humana. O objetivo é uma maior cooperação comunitária e humanismo. O objetivo é se livrar do racismo institucionalizado!”

Portanto, o Novo PPN nada tem a ver com os antigos Panteras, marxistas leninistas e intercomunalistas revolucionários.

Conclusão

Precisamos, urgentemente:

I) Massificar o fato de que muitas visões separatistas de Malcolm X foram abandonadas durante sua vida. Muito se diz sobre as ideias que Malcolm pregava, sobre odiar brancos, mas pouco se divulga sobre as mudanças que ele teve ainda em vida. Não houve apenas um Malcolm X, e essa abertura à mudanças é um exemplo que precisamos levar também para a nossa militância.

II) Entender que os separatistas negros, assim como os separatistas brancos (nazis) nada acrescentaram à luta por direitos civis, pelo contrário. Seu discurso era contraproducente. Não é uma questão de resistência violenta, pois os Panteras Negras também resistiram violentamente. Mas uma falha ideológica desses grupos que acreditam que a raiz da opressão dos negros se encontra no seu tom de pele e numa maldição branca — quando na verdade, é uma questão de herança e justificativa capitalista.

III) Desmistificar o Novo Partido dos Panteras Negras. Não podemos comemorá-lo, e não há nada de Panteras nos “Novos Panteras”. As ideias de separação estão vivas, é um discurso que tem conquistado muitas pessoas, e precisamos combatê-las se ainda quisermos disputar as mentes dos negros em prol da luta.

Que a chama de Malcolm X e dos Panteras Negras esteja viva em nós!

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