Não perca tempo crescendo sozinho (ou morra tentando)

in #pt5 years ago

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No vídeo de hoje, trago uma reflexão sobre crescer e se aprimorar junto dos outros. Assista abaixo ou leia a transcrição logo a seguir.


Não perca tempo crescendo sozinho (ou morra tentando)

Parece até clichê dizer isso, mas se não é impossível, ao menos é extremamente difícil crescer sozinho.

Seja na sua vida pessoal, seja nos seus estudos, seja nas suas ambições particulares ou mesmo em seus hobbys mais despretensiosos...

A gente precisa parar de romantizar a ideia de que dá pra ser autodidata em tudo, ou mesmo independente de todos.

E isso aqui não é baboseira do tipo autoajuda pra pessoas frágeis emocionalmente, isso aqui é a vida real, é como as coisas fluem e funcionam lá fora, para além das telinhas das redes sociais.

Eu percebo muito isso na minha vida: sempre que tento dar cabo de alguma coisa sozinho, eu enfrento dificuldades que, depois que descubro a solução, essa solução era tão óbvia, mas tão óbvia que eu teria acesso fácil a essa obviedade se eu tivesse pedido ajuda para outras pessoas que muito provavelmente já passaram pelas mesmas dificuldades que eu.

Ou seja, nos mais variados mercados, seja o mercado do trabalho, mercado de ideias e por aí vai..., pessoas que não pedem ajuda, pessoas que não se abrem a aprender com a experiência, dicas e aconselhamentos dos outros..., essas pessoas acabam ficando pra trás em comparação àquelas que resolveram abraçar a humildade e aceitar o fato de que não dá pra crescer sozinho.

E todo profissional da comunicação, do marketing, da publicidade e até do jornalismo sabe disso. Afinal, eles lidam com o mundo real, eles lidam com pessoas, eles são treinados a ver oportunidades onde muita gente não tá vendo. E é isso que eles chamam de "networking", que é o estabelecimento de uma rede de relacionamentos ampla, com pessoas das mais variadas áreas e que podem te ajudar a conquistar os mais variados objetivos que você possa ter.

Mas Networking não é essencial apenas pra te fazer crescer, aprender novas coisas, saber detectar oportunidades valiosas e abrir portas... Networking é indispensável especialmente pra consolidar a sua marca no mercado.

E eu tô pensando aqui enquanto acadêmico em filosofia que produz vídeos como este para o público amplo e heterogêneo da internet.

Assim como eu, toda pessoa que visa crescer no mundo virtual precisa de uma rede ampla de apoio, precisa de seguidores, precisa de inscritos, precisa de fãs e pessoas que retuítam suas opiniões.

E isso não é meramente fútil, isso é reflexo de aspectos sociais profundos e introjetados no nosso agir social comum. Nós cultivamos ídolos, nós acompanhamos conselheiros, nós aprendemos com professores... Até na hora de ler um livro o que estamos fazendo não é aprendendo sozinho... A gente tá literalmente ouvindo alguém nos contar uma história, e dependendo do desenrolar dessa história a gente acaba inclusive entrando pro fanclube do autor depois de apreciar a leitura.

Esse comportamento social reflete nossa psicologia que opera por vieses que facilitam nossa interpretação do mundo. São os famosos vieses cognitivos, que embora sejam muito mal-vistos por vários motivos razoáveis, eles acabam ajudando na construção de um poderoso senso-tribal que fortalece as comunidades nas quais estamos inseridos, e por derivação nos fortalece, enquanto indivíduos. E fortalecidos dentro de uma comunidade, nós crescemos. E crescemos, portanto, conjuntamente, com o apoio daqueles que estão à nossa volta, que nos respeitam ou até mesmo nos veneram. Mais uma vez: nós não crescemos sozinhos.

Da mesma forma, não somos como tábulas rasas, folhas em branco em que só após nascer as coisas começam a ser escritas.

De fato muito do que somos ou aprendemos é algo adquirido durante nossas diferentes vivências. Entretanto, nós nascemos com muitas coisas já escritas em nossas folhas, coisas inatas como as predisposições neuronais e genéticas que nos permitem, dentre outras coisas, ter a capacidade de reconhecer, por exemplo, que um círculo-quadrado é impossível de ser representado espacialmente.

É problemático, mas reconhecer capacidades inatas pode confundir as pessoas e fazê-las pensar, como pensou John Locke, que só podemos chegar a verdades e aprender algo de fato se fizermos isso individualmente, sem nos apoiar no que os outros estão dizendo e pensando...

Aqui a gente pode pensar em independência intelectual, enquanto um paralelo à independência financeira. Mas assim como nunca somos financeiramente independentes — afinal existe toda uma macro-economia por trás dos mecanismos que possibilitam que o dinheiro chegue ao nosso bolso —, também não somos intelectualmente independentes... Ao menos não no sentido de que somos capazes de crescer e ir além sem nos relacionarmos com outras pessoas.

Todo livro que você lê, todo entretenimento que você consome, toda cultura que você adquire e todo sucesso que você atinge... Pode ter certeza: isso tudo tem a ver com as pessoas à sua volta, e não apenas com você.

É como o grandioso Isaac Newton bem escreveu em 1675: "Se eu vi mais longe, foi por estar sobre ombros de gigantes." E essa frase é especialmente importante por dois motivos: o primeiro é que ela remete à ideia de que para descobrir a verdade precisamos partir de descobertas anteriores. O segundo ponto é que trata-se do próprio fucking Newton se assumindo como um pequeno anão no ombro de gigantes, o que mostra sua humildade em reconhecer que o conhecimento e o aprendizado a nível de excelência são fruto de um trabalho comum humano, ainda que possamos perfeitamente nos isolar e aprender coisas importantes sozinhos.

O fato é que toda descoberta anterior às nossas próprias é uma descoberta feita por outra pessoa. Portanto, todo grande intelectual que se destaca, especialmente aquele intelectual que veneramos devido ao nosso senso tribal, se destacou não por ser alguém ímpar, mas por ter aproveitado de forma ímpar toda a bagagem a que teve a oportunidade de conhecer e experimentar. Não temos deuses na espécie humana. Ainda assim, temos a ilusão de crer que certos humanos são entidades superiores, afinal essa sensação ajuda muito no fortalecimento de nossas comunidades, nos fortalecendo em contrapartida.

Então, a partir dessa reflexão fica aqui a minha dica: se querem crescer e se destacar, trabalhar e se aprimorar a nível individual é simplesmente fundamental. Você não cresce se não começar a fazer algo a respeito, sem sombra de dúvidas.

Mas o processo fica mais rápido, mais interessante, mais rico e frutífero quando assumimos de peito aberto e de forma humilde, tal como Newton, que não vamos crescer tanto quanto poderíamos se fizermos isso sozinhos.

E isso fica aqui até como uma crítica a mim mesmo: eu sempre aceitei tudo isso que eu tô falando pra vocês, mas eu não tenho verdadeiramente praticado a consolidação de redes fortalecidas a fim de favorecer o meu progresso pessoal.

Muitas vezes, é difícil conseguir criar projetos comuns com outras pessoas que têm afinidade no conteúdo e na forma, como por exemplo outros produtores de vídeos de filosofia.

E isso é algo sobre o qual eu tava há pouco falando em um grupo no Facebook: o sucesso de pessoas e de ideias depende fundamentalmente tanto de quão sólidas essas ideias são, quanto de quão fortalecidas são as comunidades dessas pessoas. E se realmente acreditamos que nossas ideias vão resistir ao teste do tempo e das críticas, resta, então, fortalecer as nossas comunidades, fortalecendo assim os indivíduos que se identificam com essas comunidades.

Como eu tô aqui me colocando como divulgador de filosofia, e se me permitem um único pedido, eu quero pedir a vocês que confiram a descrição deste vídeo, pois nela verão alguns links pra conhecer o trabalho de outras pessoas que divulgam filosofia. São pessoas que, assim como eu, estão preocupadas com o fortalecimento de comunidades filosóficas aqui no Brasil, fortalecendo uma cultura popular em torno da filosofia, uma filosofia verdadeiramente pública.

E talvez o que falte a essas pessoas que eu tô indicando a vocês, e até é algo que falta a mim mesmo... talvez seja, justamente, parar de focar no nosso próprio público e focar naquilo que temos em comum, referenciando uns aos outros, atingindo um novo alcance a partir de um olhar comum frente ao nosso objetivo comum que é fazer filosofar e crescer filosofando.

Não importa se o colega da filosofia é liberal, comunista, conservador ou seja lá o quê. Se ele defende aborto, se é cristão, se come carne ou sua maior preocupação é ser o super-homem nietzscheano... Isso tudo é indiferente frente ao fato de que fazemos filosofia não pela mera conveniência ideológica, mas pelo debate, pelo acesso a pontos de vista relevantes, pelo estabelecimento de verdades que possam mudar totalmente a forma como vemos o mundo... Se ganhamos e crescemos com a ajuda dos outros, essa ajuda fica ainda mais rica quando ela sabe operar as diferenças...

Precisamos, então, não apenas reconhecer que não cresceremos sozinhos. Precisamos ativamente crescer juntos.

Então volto ao meu pedido: sigam esses canais e comentem em seus vídeos dizendo que os conheceram por indicação do Alysson. E assim, sintam-se tribalmente parte dessa comunidade filosófica que estamos todos tentando construir e popularizar...

Aqui quem fala é o Alysson Augusto e nos vemos no próximo episódio. Forte abraço!


Se gostou do vídeo, por favor, fortaleça a divulgação filosófica curtindo e compartilhando!
Considere também apoiar o canal. Acesse www.alyssonaugusto.com.br/apoie e descubra como. ♥

Ah, outra coisa: tô fazendo TRANSMISSÕES AO VIVO QUASE TODO DIA NO TWITCH.TV! Segue lá: https://www.twitch.tv/alyaugusto

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