[BLOG] Desglobalização, descentralização da economia e descentralização social (Parte 1 de 3)
Desglobalização, descentralização da economia e descentralização social (1/3)
Meu irmão ainda esta na escola, e esses dias ele chegou a casa contando o que tinha visto na aula de geografia daquele dia. Eu lembro que era uma sexta feira, isso faz umas duas semanas eu imagino, lembro também que minha vontade de ouvir todos aqueles tópicos beirava a nulidade.
Não bastasse isso, o assunto que ele vira na aula era globalização. Meu irmão contou que o professor explicou para os alunos que globalização era a integração da economia mundial, como se todos os mercados conversassem entre si. Se todos os mercados conversam, há também uma troca de culturas, criando uma espécie de miscigenação de crenças, costumes e valores.
Quando ele mencionou isso, eu perguntei a ele se o professor também falara do fenômeno da desglobalização. A resposta obviamente foi que não. Ele me perguntou o que era, e eu expliquei, de forma bem mais breve do que farei aqui, que desglobalização era uma espécie de retorno ao regionalismo, onde os povos buscam voltar a suas origens, não só culturalmente, como também economicamente, dando preferência inclusive a produtos e estabelecimentos locais.
Segundo a maioria das fontes que eu pesquisei, o que impulsionou esse fenômeno foi a crise de 2008, que acabou por gerar um sentimento de desconfiança em relação as possibilidades e retornos de se "multinacionalizar" empresas e negócios.
Hoje vemos que países muito expandidos em termos de comércio internacional como EUA, Inglaterra, França e até mesmo o Brasil buscam medidas protecionistas para tentar incentivar o mercado interno, barrando o máximo possível as importações de produtos estrangeiros. Claro, temos que ter consciência de que de muitas dessas medidas não saem resultados positivos, uma vez que o país exportador, uma vez que sua fonte de renda (a exportação) é prejudicada, sua economia como um todo também sofre, e assim vamos criando um efeito dominó, e por fim, uma recessão.
Mas antes de falar das consequências da desglobalização econômica, vamos também falar do lado social do fenômeno. Ele é claramente visível através de movimentos separatistas na Europa, por exemplo, como a Catalunha na Espanha, regiões da Ucrânia, o povo Curdo, e outros menos conhecidos, mas igualmente desejosos de manifestar sua cultura e se organizar como comunidade de forma independente.
Acredito que isso aconteça pois o ser humano tem um instinto natural de preservação. Quando sentimos que nosso meio de conforto esta ameaçado, ou que nossas crenças estão sendo atacadas, nossa reação natural é nos recolhermos com nossos semelhantes e lutar contra estas investidas.
Naturalmente as mudanças acontecem, pois como dizem os sociólogos, não existe sociedade estática, ou seja, até mesmo uma comunidade isolada terá suas crenças resignificadas. Porém, a ressignificação das crenças também é uma forma de preservação, uma espécie de adaptação para manter aquela cultura e a comunidade vivas.
-> Percebam, como curiosidade, que esse processo de adaptação é semelhante ao que ocorre na evolução darwiniana, onde as espécies evoluem de forma gradual a fim de assegurar a sobrevivência da espécie.
Mas então, quais são as consequências desses dois fenômenos? O resultado é a própria descentralização, é a diluição do poder, é também a rejeição a ideia de um "governo mundial".
E não paramos por ai, acredito que todos que leem isso concordam comigo que um poder centralizado jamais será saudável, e não apenas o poder estatal, mas também econômico e social, pois é esse tipo de poder que coloca amarras no desenvolvimento individual e coletivo, a fim de manter o status quo. A ideia da desglobalização não é uma interrupção e um enfraquecimento do comércio internacional, mas sim um maior valor dado aos produtores e produtos da sua própria comunidade.
Em uma postagem anterior (leia-a aqui), eu utilizei como exemplo um bairro onde os moradores comercializam entre si produtos feitos por eles mesmos, e falei brevemente como aquilo era saudável. O fato é que aquilo é uma forma de desglobalização, e nada impedirá que o vizinho produtor de leite compre um computador feito na China, o problema é quando não é aquela vizinhança quem produz, mas sim grandes e monopolizadoras empreiteiras, que detém um percentual gigantesco do mercado.
Vejam como exemplo o Brasil na República Velha, que teve sua economia afetada pela retração econômica dos importadores de café, naquele período histórico o Brasil estava extremamente centralizado, dependente das grandes quantidades de exportações e importações das chamadas oligarquias do café. Isso jamais aconteceria numa economia descentralizada, mas porque?
Enfim, como o assunto é extenso, vou dividi-lo em duas partes, ficamos com a pergunta e respondemos no próximo post. :)
Thomas, então, excelente texto. Consideraria pensar que se há mesmo uma desglobalização, principalmente em relação ao sistema financeiro. É interessante perceber que que a inglaterra nunca entrou na zona do Euro, isto para preservar sua aliança historica com EUA. O Banco Europeu, após as crises da Grecia, Espanha e Portugal consolidou sua influencia regional. A criação do banco do BRICS também pretende diminuir a dependencia destes países junto ao FMI, mas não deixa de ser outra forma de centralização, principalmente se pensarmos em relação a população destes países, que é proxima da metade da população do planeta. Não estenderei muito o comentario, pois irei acompanhar seus post e ai vamos debatendo SAUDAVELMENTE estes temas, que gosto bastante. Abraços e sucesso!
cheguei até aqui por recomendação do @casagrande
Concordo com você, se pensarmos nesses casos desses grandes bancos, de fato houve uma centralização. Mas também houve uma descentralização, a partir do momento em que surgiram novos bancos com novas propostas como Nubank e o próprio blockchain, que ainda esta germinando como sistema financeiro.
Acredito que esses dois fenômenos, aparentemente distintos e não interligados, na realidade são causa e consequência. Com o surgimento dessas novas propostas, como os citados Nubank e blockchain, surgem movimentos contrários de manutenção do poder centralizado de quem ja tinha o poder, no caso, os governos, criando assim uma espécie de cabo de guerra.
O grande @casagrande citou meu post nas recomendações que ele fez, fiquei muito feliz com isso! Vamos debater sim! :D
Visão muito interessante sobre o assunto, obrigado por compartilhá-la. Pessoalmente, sou a favor do livre mercado desde que respeitados os critérios do comércio justo. Neste caso, o comércio local é valorizado por não ter que concorrer com a mão-de-obra muito mais barata como ocorre nos países mais pobres.
Essa a ideia, amigo! Obrigado pelo feedback! :D
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Top, espero parte 2.
2 de 3! Hahah, fico feliz em saber que gostou, amigo!