Justiça, Consenso e Tecnologia
Acredito que a questão primordial nos últimos anos em todo Ocidente seja o que entendemos como justiça social. Acredito também que boa parte de nossos problemas como conjunto de nações que dividem uma herança cultural em comum tenha sido exatamente a falta de uma discussão mais profunda em relação ao que entendemos por justiça e de como nos responsabilizamos uns pelos outros por dividir um mesmo espaço.
Tento abordar essa questão da forma mais neutra possível o que é realmente difícil, principalmente nesses dias em que um nível cada vez maior de emocionalismo tenha contaminado o pensamento lógico.
Antes de qualquer coisa quero deixar claro que sou um libertário extremo em todas a questões sociais e políticas e não acredito que seja interessante pra nenhum indivíduo ter qualquer tipo de pendencia vinda de um suposto poder maior. No entanto também devo afirmar que muitas das pessoas que dependem do estado não o fazem necessariamente porque o querem. Precisamos deixar claro aqui que uma parte dessa dependência não veio necessariamente da vontade livre desses indivíduos.
Uma tese corrente nesses dias é a de que toda a miséria humana tenha sido causada pelo capitalismo em si. Antes de qualquer coisa quero dizer que não acredito nesse posicionalmente de nenhuma forma. Hoje aos 34 anos de idade tenho que afirmar que minha experiencia pessoal me diz o contrario. Empreendedorismo é o que mantem pessoas vivas.
Aqui talvez exista um ponto de discordância que poderia ser colocado da seguinte forma; Uns acreditam que o capitalismo em si seja um exteriorização natural da busca por recursos escassos que é a norma na natureza. Indivíduos competem entre si buscando suprir suas próprias necessitadas. O outro lado da moeda diz que na verdade essa própria competição é artificial e que o natural seria a divisão de recursos. Também podemos ver isso na natureza. O comportamento gregário também existe em outras especies.
Acredito que independente de nossa posição individual todos têm si uma noção inata de justiça. Não gostamos quando vemos algum tipo de exploração ou quando pessoas recebem muito mais do que merecem tomando isso dos outros. Também não gostamos quando vemos o que chamamos de competição desleal. Acredito que ninguém em condições normais goste de presenciar qualquer tipo de covardia. Tudo isso evidencia uma noção inata que temos de merecimento justo.
O fato de não gostarmos de injustiça também não quer dizer de nenhuma forma que impedimos que ela ocorra à nossa volta, esse é um ponto chave aqui. Todos dizemos que gostamos de justiça, mas somos ao mesmo tempo preguiçosos alem de fazermos vista grossa a maior parte do tempo.
Quando recebemos algum tipo de privilegio imerecidamente é muito difícil não aceita-lo simplesmente porque não é justo com os outros. Posso falar isso de todos o grupos sociais existentes. Queremos justiça, mas ao mesmo tempo somos preguiçosos para leva-la em consideração o tempo todo, principalmente quando somos nós que levamos algum tipo de vantagem.
Se não bastasse isso uma carga de experiencias negativas durante nossas vidas tem como consequência a negação de nossa própria sensibilidade em troca de uma postura cínica em relação a vida e aos demais.
Como apreciador da arte e do desenvolvimento humano posso dizer que pelo menos pessoalmente não acredito que insensibilidade e cinismo sejam o fim ultimo de nosso desenvolvimento. Na verdade esse mal-estar vem exatamente do contato que temos com injustiça. A aparente impotência em resolve-la nos faz engoli-la mesmo sem querer e com o tempo aprendemos a aprecia-la, pronto, é dai que vem o cinismo e o mal-estar.
Concluímos alguns pontos aqui, são eles;
1. O fato de que há um noção inata de justiça em todos nós o que faz com que repudiemos qualquer tipo de covardia.
2. O fato de que somos preguiçosos e mesmo completamente desinteressados na maior parte do tempo com a relação a todo tipo de injustiça que ocorre à nossa volta.
3. O fato de que com o tempo esse desinteresse pelos demais acaba por se transformar em uma especie de cinismo ou mal-estar. Nesse ponto nos aproximamos do niilismo absoluto afirmando que não vale a pena se interessar por qualquer questão em si.
4. Com o tempo o cinismo e o mal-estar em geral nos faz apreciar menos a vida e pode mesmo ser um força destrutiva nos colocando em situações de risco. Isso ocorre porque naturalmente gostamos de viver em um ambiente justo, quando não vemos isso à nossa volta ficamos constantemente em um estado de tensão e medo.
O cinismo/niilismo é uma defesa psicológica frente a um ambiente caótico que tenta suprimir o sentimento de tensão e medo.
Penso que podemos ser mais produtivos em relação a nós mesmos e aos demais se trocarmos a nossa ideia vulgar de justiça pela ideia de consenso.
Sei que isso pode parecer uma afirmação extrema hoje, mas acredito verdadeiramente que em um determinado ponto deixaremos de lado a ideia vulgar de justiça que exige um poder maior e passaremos a adotar cada vez mais a ideia de consenso através de ferramentas tecnológicas.
Isso não quer dizer que deixaremos de usar a palavra justiça ou mesmo de usar todos o aparato legal que construímos ao longo dos seculos. Não é isso. O que aponto aqui é a popularização e entendimento das massas do que hoje chamamos de consenso em todas as esferas.
Acredito que o velho conceito de justiça esteja gasto por tantos usos políticos e ideológicos realizados em nossa historia, que querendo ou não, está cheia de hipocrisia e derramamento de sangue.
Consenso é um conceito mais claro, moderno e simples de entender. Consenso pode ser colocado simplesmente como “entendimento estre as partes” Algo que qualquer juiz de direito vê como um grande alivio no fim de um dia de trabalho.
Consenso induz ao fim do “atrito” o mesmo não pode ser dito com a ideia vulgar de justiça. Esse é o ponto principal aqui, herdamos uma ideia de justiça que diz que um super poder alem das partes precisa agir em favor de uma e contrario à outra. Essa ideia vulgar de justiça foi herdada do dogma religioso e persiste ate hoje.
Consenso pode ser definido como justiça em um sentido mais inteligente porque evita o atrito e o desperdício de energia, não favorecendo estre os lados, mas alcançando consenso entre as partes. Onde há consenso não há necessidade de poder.
A ideia vulgar de justiça levará sempre à guerra, e acredite, guerra é um negocio extremamente lucrativo para indivíduos/grupos poderosos. O problema ocorre quando esses indivíduos/grupos conseguem colocam a mão em dinheiro publico. As consequências são sempre desastrosas, essas sim levando à miséria humana e no mais das vezes à carnificina pura e simples.
Acredito que precisamos desenvolver uma cultura do consenso que esta diretamente ligada à logica, eficiência e a diminuição de atrito através do uso de ferramentas tecnológicas.
Apesar de vivermos em um tempo cheio de violência e acusações mutuas, também podemos dizer que nunca tivemos tanta tecnologia para nos livrarmos disse tipo de herança que simplesmente não nos interessa mais.
Acredito sim que dinheiro publico possa ser gerido diretamente através de consenso e acredito que eventualmente teremos as ferramente necessárias funcionando. Na verdade vejo isso como única alternativa possível ao nosso desenvolvimento.