O presente da presença na maternidade: o cuidado materno.
Na semana passada, participei da reunião semestral de pais na escola do meu filho. É um encontro que acontece apenas três vezes ao ano. Dentre 25 alunos, apenas 8 mães/pais estavam presentes. Esse número me deixou pensativa. Não é de hoje que percebo essa ausência recorrente em reuniões escolares, mas a cada encontro, ela me faz refletir mais profundamente, sobre a presença materna que temos vivido.
Nessa mistura de pensamentos fui arremessada às memórias da minha infância. Não lembro de minha mãe ou pai participando das reuniões escolares ou acompanhando minha trajetória escolar, acadêmica. Isso era algo que eu desejava muito, mas eles nunca estavam lá. E no lugar onde eu deveria ter boas memórias, ficaram gravadas frases como: “Isso é uma chatice, essas mães são muito chatas, falam muito”, era o que a minha mãe sempre dizia.
E esse presente ficou marcado em mim, a ausência. Como mãe, compreendi que a presença é um presente raro e de muito valor. Muitos diriam que isso é algo típico dos tempos modernos, mas a verdade é que esse comportamento já vem se tornando comum há gerações. A ausência de pais na criação dos filhos, infelizmente, parece ter se tornado comum, ou, pelo menos, o hábito. Não deveria ser assim, mas tem sido.
As desculpas que damos a nós mesmas são sempre as mesmas: “Estou trabalhando”, “Não deu tempo”, “Isso não é tão importante”… Mas será que não entendemos que participar de um encontro de pais na escola não é sobre nós? É sobre eles, nossos filhos. É sobre dar prioridade ao que realmente importa.
Ser presente é um ato de amor, puro e genuíno.
Costumo ouvir de outras mães: “Meu filho sabe por que não fui”. E, sim, ele pode até saber. Mas entre saber e entender, há um abismo, e muitas vezes não será construída uma ponte capaz de conectar ambas as partes, pais e filhos. Sentir a nossa ausência não é sobre explicações; é sobre o vazio que fica, uma ferida na alma.
E o que essa ausência tem gerado? Uma maternidade distante, permissiva, muitas vezes sem limites, sem vínculos profundos e sem conexão real entre pais e filhos. A ponte que deveria unir está deixando de ser construída. Estamos criando uma geração impactada por mães que estão emocionalmente distantes. As consequências estão por toda parte: crianças e jovens crescem sem o cuidado próximo, sem pais verdadeiramente interessados em suas vidas. E quem está criando os nossos filhos? A ausência tem sido preenchida pelas redes sociais, pelas telas, pelo outro.
O direito das mães é o que mais escuto nas palestras e estudos sobre maternidade. As mães precisam ser felizes, as mulheres precisam de uma maternidade leve e equilibrada. E, claro, isso é importante. Mas e os deveres? Será que o peso está em ser mãe, ou no que temos carregado além de ser mãe? A mala está cada vez mais pesada, cheia de tantas tarefas, e isso tem nos feito perder o foco no que realmente é necessário e prioritário.
Não podemos esquecer que a maternidade é muito mais sobre dar do que receber.
“Há maior felicidade em dar do que em receber.” Atos 20:35.
É no dar que encontramos a verdadeira felicidade, a oxitocina. Maternidade é estar presente, se doar, mesmo quando estamos cansadas, mesmo quando parece uma “chatice”.
Porque ser mãe é muito mais do que um título: é participar do processo de formação de um ser humano que depende de nós. Eles estão sob a nossa responsabilidade.
“Ensina a criança no caminho em que deve andar, e mesmo quando for velho, não se desviará dele” (Provérbios 22:6).
Mas como ensinar, se muitas vezes estamos ausentes? Como conhecer as necessidades do nosso filho, ou da comunidade que o cerca, se a nossa prioridade tem sido estar em outro lugar? Para instruir, cuidar e orientar, precisamos estar presentes. Precisamos conhecer as necessidades dos nossos filhos e até das crianças ao nosso redor. Precisamos de um relacionamento com a comunidade em que vivemos.
Reuniões escolares para pais não são apenas sobre o desempenho do “meu filho”. Elas são momentos de construir uma comunidade, de criar laços entre mães, de estarmos juntas pelo bem dos nossos pequenos. É sobre construir juntas.
Antigamente, era comum os pais criarem laços de amizade porque seus filhos eram amigos na escola. Hoje, estamos nos distanciando cada vez mais. Muitas de nós vivemos isoladas, preferindo reuniões por videoconferência porque são mais cômodas, rápidas e não atrapalham a rotina da mulher. Mas, ao fazer isso, perdemos a chance de nos conectar e de dedicar tempo ao que realmente importa. Cadê o cafezinho pós reunião escolar entre mães? O que estamos fazendo?
Saí daquela reunião pensativa sobre que tipo de mãe quero ser e, também, qual não quero ser. Não se trata de estar pouco ou muito presente, mas de não estar ausente. Quero viver cada estação da vida ao lado dos meus filhos: os dias felizes, os dias não tão bons, os dias que constroem a próxima geração. Quero ser para eles o presente da presença.
E você? Sua presença tem sido um presente para seus filhos?
De mãe para mães, Luciana Costa