O mar - a notícia das tuas ondas - por Francisco de Araújo

in #mar6 years ago (edited)

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Mar, que maravilha a tua cor, que salgado o teu sabor, que generosidade tem o teu coração, que primorosa a tua beleza! Venho ter contigo, neste fim de semana tão caloroso, uma companhia cheia da esperança e alegria. Permite-me um instante tranquilo para eu reflectir sobre os meus dias e meditar o teu horizonte. Essa reflexão e meditação pertencem ao segredo do meu EU, das tuas vagas, do vento que sopra e do omnipotente. Fico muito feliz por estar neste lugar tão fresco. Que eu tenha neste dia um céu aberto! Um ar e mar, um olhar e voltar. Mar, estou aqui à espera de notícias das tuas ondas. Que novidades me trarão?

Lá pelas tantas, estava eu com um pensamento muito alegre que mergulhou com grande esforço e com uma grande derrota para além do mar, sem sentir cansaço, mas sempre com um rumo sem caminho. Surgiu ainda um cruzamento engarrafado de ideias, daqueles que não permitia a movimentação nem a paragem. Quando aparecerá o verde? Por enquanto, deixei insubmergivelmente aquelas confusões e continuei com o rumo principal da minha estadia que era “o Mar” (com notícia das suas ondas) e a minha realidade.

O Mar é água salgada com a sua imensidão profunda e uma existência de beleza atraente. Enquanto eu, que não sou mar, tenho lágrimas e suores salgados. Ofereço-te, com amor, neste dia amigável, um olhar ternurento para o teu horizonte e não queria que tudo ficasse só em silêncio e sem som do vento que sopra.

À tua beira eu andava cuidadosamente sem esmagar areias onde existiam pegadas abandonadas. Quem as deixou? Desconhecia. Já não tinham donos. E quanto às sujidades existentes? Tão bonita a beleza do nosso mar de Timor, porém a sujidade nunca acaba. A irresponsabilidade continua. Até quando?

Num olhar vago, vi, em diferentes rumos, a navegação de milhares de ondas sem perceber o objectivo de cada uma. Apareceram navios num cruzamento de dúvida sobre onde tinham escrito nas suas placas mensagens que eu não consegui entender. Inesperadamente, as ondas trouxeram uma notícia semidirecta sobre “o mundo do contrário”: simplesmente uma proibição da conquista para com a beleza do mar e o brilho da lua e das estrelas que iluminam a escuridão na solidão. Infelizmente perguntei: que contrário de mundo era esse? Era um calor e um frio?

Essa notícia deixou-me o coração palpitado e num estado psicológico preocupado se esvaziou o meu mundo de esperança e a vontade de conquistar o infinito brilho das estrelas e da lua e a beleza do mar.

Hoje, a esperança torna-se vazia, mas continuo a seguir-(te), (a)mar, se voltares um dia com uma outra notícia das tuas ondas. Por mais que seja a minha aproximação, mais sentida será a tua beleza calorosa. Continuo para a frente e deixo tudo em aberto, porque não consigo contrariar o que está dentro de mim, que é muito, muito difícil e inexplicável. Inevitavelmente as lágrimas invadem os olhos e fluem sobre a boca que está seca com palavras de esperança.

Tentei uma aproximação à tua margem para poder mergulhar na tua profundidade e viver alegremente com a tua beleza e sentir o teu sabor salgado. Todavia, tudo é impossível porque as ondas são sempre contrárias. Não consegui idealizar a totalidade da tua abundância e não consegui medir o teu infinito. Por que é que o meu mundo está vazio e por que não sei onde o encontrarei e não sei quando se tornará cheio? No interior do meu coração nasceu um êxtase de chegar à areia para reter as tuas ondas, mas nada me deixaram, porque tudo foi bebido pela areia.

Dei saltos para o outro lado, tentando na plenitude da sua maré. Maré essa que nunca se baixou nem deu oportunidade para eu adentrar. Os peixes, as tartarugas, os cavalos marinhos, o peixe borboleta, o peixe palhaço, tubarões, napoleões, lesmas, lagostas e estrelas do mar alegraram-se com a minha presença, aproximando-se de mim e, com curiosidade, perguntaram-me há quanto tempo eu demorava naquele instante e qual era o meu objectivo em estar lá. Silenciosamente e em segredo, dei uma resposta matemática, nada me prendia a estar por ali. Tudo tinha a ver com o (a)mar.

Instantes depois, sumiram-se. No mesmo lugar, decidi ficar um pouco longe para tentar descobrir melhor a existência do mar; apareceu uma confusão nos meus olhos sobre a sua cor, assim perguntei: o que determina a cor dela? É a concentração de algas? É o céu? São as nuvens? É a sua própria profundidade? É tudo? Depende da situação. Abri os olhos ao céu que estava tão lindo, azul e que fazia com que a cor do mar se tornasse o seu espelho. Todavia, repentinamente, apareceram as nuvens, embrulhando o céu, permitiram uma transformação imediata da cor azul em cinzenta.

As águas moles das ribeiras tornar-se-ão salgadas no mar, digo eu, porque o mar é salgado, pois elas não se cansam de viajar até lá, embora tenham dificuldade para ultrapassar os pedregulhos. As nuvens das impotentes montanhas de Timor não se cansam de dar notícias ao mar e dão sempre vida às plantações e criam oásis no recôndito dos desertos.
As tuas vagas produziam espuma sobre as pedras e deixaram um odor salgado nas barreiras onde eu me sentava. Silenciosamente, voltaram e nunca mais as vi.

As aves do mar voaram em volta de mim barulhentamente com as mensagens cantadas. Alegraram-me e entristeceram-me, expulsando e apreendendo a minha pessoa. Umas aproximaram-se e pousaram nos meus ombros, ávidos de falar comigo sobre o poder que têm sobre o mar, enquanto outras continuaram no ar com a movimentação em companhia da paz. Infelizmente respondi-lhes que só tinham o poder do mar no ar, porque o golfinho e outros animais aquáticos têm mais poder sobre as águas. Nesse momento, o turbilhão das águas invadiu o sonho de estar lá e que não permitiu a transformação do sonho em realidade. Os dias de calor tornaram-se frios, o frio aborreceu-me. O que enrola o mar nas areias?

Se não existisse o infinito lago do mar, eu teria de fazer fluir as minhas lágrimas e os meus suores para torná-lo cheio, porque não queria que os peixes e outros animais morressem.

Mar, ao longo da minha visita, tive contigo uns momentos alegres e uns momentos tristes. Agora, já está na hora, vou-me embora. O cansaço já foi esquecido, a notícia já foi lida e voltarei a ler se houver. Cuida bem das tuas riquezas, voltarei um dia.

Por: Francisco de Araújo

Este texto foi classificado como um dos cinco melhores trabalhos do concurso "Prémio de Língua Portuguesa para jovens estudantes timorenses", 1ª edição", 2013 (anúncio do resultado em 2014). O concurso foi organizado pela Delegação da Fundação Oriente em Timor-Leste. http://www.foriente.pt/63/timor-leste.htm#.W5AnthAo-1t

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Mar é vida, literalmente. Tomar um banho de mar faz bem à saúde e é mineralizante, bem como comer frutos do mar.

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Obrigado pelo comentário, amigo @discernente. Pois é, a água do mar faz bem à saúde. Abraço!

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