12# Crônica Social - 11 anos
Com apenas 11 anos de idade, sendo o mais velho dos 6 irmãos, já havia vivido o suficiente para aprender toda a rotina de uma mãe e de um pai em tempos difíceis. Á mesa, fazia a partilha justa do pouco que tinham. Servia cada um dos pequenos famintos, enquanto ria e conversava com eles. Após todos estarem servidos, era hora de dar a mamadeira do bebê, cujo corpo franzino encaixava com carinho na magreza do seu colo, e assim todos se alimentavam alegramente com aquilo que nem de longe lembra uma refeição adequada, mas era o que tinham.
Na casa não havia água e nem eletricidade, de forma que às vezes a vizinha deixava que enchessem algun baldes de água, ocasião em que aproveitavam para tomar banho. O mais velho organizava a fila, ajudava os menores a se lavarem e os vestia depois.
Apartava brigas, socorria os que se machucavam, mantinha o portão fechado, tirava e colocava a mesa, fazia carinho e brigava. Com apenas 11 de idade ele era mais pai e mãe dos seus irmão do que os próprios pais, que passavam a noite usando entorpecentes e o dia dormindo ou surtados devido aos seus transtornos mentais não tratados.
Aos 11 anos de idade viu os pais usarem drogas e se agredirem fisicamente. E fez de tudo para que seus irmãos menores não vissem a mesma coisa. E fez de tudo para dar a cada um o cuidado e o carinho que nunca teve para si.
Aos 11 anos de idade viu o conselho tutelar e o oficial de justiça chegarem na porta de sua casa e levarem ele e todos os irmãos para um abrigo, nunca mais podendo retornar ao lar. Continuou a cuidar de cada um com o dobro de responsabilidade, pois agora havia muitos corações partidos, lágrimas, saudades e olhinhos assustados entre todos.
Todos os irmãos tinham grande chances de serem adotados por famílias substitutas, de forma que somente ele ficaria para trás. Ele, que sempre cuidou de todos, inevitavelmente era aquele que ficaria aos cuidados de ninguém. Sabendo disto, a avó, que já era bem pobre e cuidava de muitos outros netos, o adotou. Aquela coisa de onde comem 5, comem 6. Mas não comem 11, de forma que os pequenos tiveram de ser deixados para adoção.
E aos 11 de idade ele já tinha vivido mais de 50 anos, acordando todos os dias e lembrando do sorriso de cada uma daquelas crianças que ele não poderia ver nunca mais. Lembrando de cada dia em que estiveram juntos e dos que nunca mais poderiam estar.
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Embora seja uma história dura e triste, não diminui em absolutamente nada sua excelente narrativa. Um pequeno filme em letras corridas. Bravo! 👏🏽👏🏽👏🏽
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