Os cheiradores de remédios

Hoje resolvi falar de um tema polêmico até mesmo para mim, que já falou sobre tantas substâncias alteradoras da percepção. A cocaína.

Na verdade eu não tenho muito o que falar da cocaína por que realmente nada conheço sobre ela em detalhes (e não estou com vontade de pesquisar agora para dar uma aulinha), mas quero falar um pouco do que andei escutando nos últimos tempos e que meio que me chocou a percepção de realidade que eu tinha até então sobre tal droga.

Primeiro é necessário dizer que moro em uma cidade pequena para quem não sabe, pequena mesmo, você vai de um ponto ao outro do centro urbano em menos de uma hora, é grande apenas em região rural (bem grande). Pouco a pouco tem se tornado comum comentar que a cultura do uso da cocaína meio que dominou a cidade. Não só entre jovens, mas também entre gente de mais idade, sempre com uma boa situação financeira, é claro. Já não é tão estranho imaginar as cenas de jovens de 17 anos cheirando carreiras no banheiro de uma baladinha (sertaneja??? Que porra de absurdo leva alguém a cheirar cocaína escutando sertanejo?), mas isso tem ganhado contornos sombrios por que, por acaso tive conhecimento sobre o processo do preparo dessa cocaína vendida por aí para os jovens famintos por queimar suas taxas de dopamina o mais rápido possível. Um amigo muito próximo me relatou o que viu pessoalmente mais de uma vez com um colega seu que traz de fora a pasta base da coca para vender adulterada (o que é completamente comum para eles) e vou relatar um pouco disso para vocês.

Esse jovem compra de uma fonte de confiança e qualidade uma "pedra" de cocaína que suponho ser o que chamam de pasta base, já que ele descreveu-a como úmida, por aproximadamente 50 a 100 reais e então tritura-a em um prato esquentando no microondas para seca-la e tornar-se um pó fino, segue então o diálogo ocorrido na casa dos amigos desse amigo:

-Vocês tem algum remédio aí?
-Que remédio?
-Ah, pode ser qualquer um, sendo branco ta valendo.
-Ah achei esse daqui que é pro coração e esse daqui pra depressão, pode ser?
-Ta ótimo!

Trituram os comprimidos disponíveis, a cartela toda, misturam a uma parte da cocaína e separam em vários pacotinhos para revender.

Um pouco da cocaína boa é utilizada pelos membros da casa e alguém lambe o prato, que faz parte do hábito, pois amortece a boca.

Quando eu soube dessa história fiquei no mínimo abismado com essa compreensão, não por ser novidade, por que sempre se ouvem histórias por aí (lembrei de um amigo contando que precisavam de dinheiro urgente pra comprar mais cocaína e então pegaram um pacote e rasparam aquele cal de pintar poste, misturaram com fermento e venderam para alguém, a pessoa comprou, gostou e queria mais). Mas o que fiquei pensando foi em quanta inconsequência somos capazes, tanto o infeliz que nem mesmo ponderou se um antidepressivo qualquer moído junto com cocaína poderia causar alguma coisa grave ou até mesmo letal, e também para esses infelizes consumidores que utilizam sabe-se lá o que com o perigo de bugarem seus cérebros para sempre por pura falta de noção.

Sinceramente não estou fazendo nenhum tipo de crítica ao consumo da cocaína em si, por que nada sei sobre ela, além de que é altamente viciante e de certa forma perigosa, a questão aqui é essas adulterações.

O mesmo indivíduo da adulteração outra vez ainda, sem droga para vender recebeu ligação de duas garotas, patricinhas pedindo coca, ele não tinha, elas insistiram (meu amigo observando tudo), ele falou que ia dar um jeito. E qual foi o jeito?

Pegou uma cartela inteira de paracetamol, sim, só paracetamol puro. Moeu, fez o processo de seca-lo e deixa-lo bem fino. Vendeu para elas. Elas adoraram e compraram ainda mais uma vez na mesma noite. Pagando coisa de 50 reais por cada pacotinho.

Como é fácil fazer dinheiro! O que o paracetamol faz se for inalado em inúmeras carreirinhas? Deixo essa questão para nosso amigo @matheusggr responder, mas certamente não é coisa boa!!!

O mesmo poderia ser falado sobre as adulterações na cannabis e em qualquer droga, mas a cocaína por si só, já sendo mais séria e perigosa e tornando-se pop entre as pessoas em um nível que eu nem estava preparado, me deixa realmente cabreiro com o que pode vir a acontecer com essa juventude que já está definitivamente apodrecida. Afinal nem é só a cocaína o problema, um breve relato de uma "noitada" de alguém de 16 ou 17 anos contém massivas doses de whisky com energético (destruidor de neurônios), muito cigarro, cocaína adulterada, ácido lisérgico adulterado (nBom) e ecstasy....

Chego a ficar ruim só de pensar nisso!